Adeus

abril 24, 2009

Como a idéia (abaixo o novo acordo ortográfico) era tentar relatar algumas das sensações durante a viagem, creio que não mais o que escrever. Digo, sempre há o que ser dito, mas, bem, é um diário temporario.

Sinto que na maior parte das vezes não consegui expressar exatamente o sentido no momento, seja por estar muito atordoado com todos os acontecimentos e emoções, seja pela pressa na hora de atualizar o site.

Agradeço a todos  que visitaram e me acompanharam antes, durante e depois da viagem. Obrigado a quem me incentivou e ajudou a concretizar esse sonho. Obrigado, obrigado.

RoadA verdade é que o setlist do show de Las Vegas foi praticamente o mesmo da apresentação no festival Coachella, dois dias antes. Até a ordem das músicas foi seguida. Mas nem por isso foiquei menos satisfeito com o que vi. Desde o início pensei que esse seria o melhor dos três shows, mas o concerto no Coachella foi insuperável.

O que fez da apresentação de Vegas inesquecível são os acidentes do percurso. Primeiro, esse foi o fatídico show que foi noticiado como a apresentação com ingressos esgotados mais rapidamente na história. Em sete segundos, os quatro mil ingressos fora vendidos.

Tive de comprar meu tíquete de segunda mão e como o site do cambista não oferecia entrega para o Brasil, a entrada foi enviada para a casa do namorado de uma amiga. O cara mora em Seattle. Eu pegaria o ingresso com essa minha amiga, que iria para o Coachella. Mas bem perto da época que o ingresso chegou na casa do namorado dela, eles brigaram e o cara simplesmente sumiu, não atendia ela, não aparecia em casa nem nada. E os ingressos lá. Quando ela finalmente localizou o cara e pego o ingresso, uma mudança de planos: ela não iria mais para o Coachella. Como eu já estava nos EUA, pedi para que ela mandasse para o endereço onde estava em San Francisco.

No dia previsto para a entrega, um dia antes de eu sair da cidade, a bendita carta não chegou. Segundo me informou o carteiro, não havia ninguém no horário da entrega, o que não procede. Ficou combinado com o serviço postal que a carta seria entregue no trabalho da amiga que fiz em San Francisco e, de lá, ela encaminharia para o endereço onde eu ficaria em Vegas, tudo isso com prazos bastante apertados. Como quase tudo nessa viagem, a resolução não foi simples. Resumo da ópera, a carta ficou presa no correio e no sábado de noite eu não tinha ingresso para o show do domingo.

Abdiquei de boa parte da noite do segundo dia do Coachella para dormir cedo e acordar disposto para dirigir insanamente até Las Vegas, viagem que durou quase sete horas já que mes perdi algumas vezes no caminho, já que ninguém que estava no carro comigo sabia ler direito as coordenadas do GPS.

Acreditei sinceramente que tudo daria certo quando, a pouco mais de uma hora de distância de Las Vegas, a rádio começou a tocar Band on The Run, do McCartney. Mais um sinal.

Esperava conseguir alguma forma de conseguir uma segunda via do ingresso, o que não aconteceu.

Não foi pior porque a organização do show liberou mais ingressos para a venda na bilheteria. Parece uma resolução simples, exceto pelo fato de estar completamente falido. No fim das contas, todos os tropeços que tive na viagem me levaram a situações que compensaram por demais os transtornos. Graças a essa correria para chegar logo em Vegas e resolver o problema do ingresso me garantiu um bom lugar na fila de entrada.

Valeu a pena ouvir Jet pela terceira vez em pouco mais de três semanas, mesmo sem ser grande fã dessa música. E dessa vez estava perto o suficiente para dizer “thank you, Paul” e ser ouvido. Como diz aquela música dele, maybe I’m amazed.

Até o Paul se emocionou

abril 22, 2009

PaulPaulMais emocionante do que se emocionar vendo o Paul McCartney é vê-lo emocionado. Quando eu já estava derrubando minhas habituais lágrimas ao ouvir My Love no festival Coachella, dia 17, reparei no telão que ex-beatle também estava marejando.

Antes da canção, ele explicou que naquele dia, era aniversário de 11 anos da morte da Linda, pra quem a música foi feita. Essa é a razão de nos emocionarmos tanto com as coisas que foram compostas por ele ou qualquer beatle: há sentimento de verdade ali. A prova estava lá.

Pareceu que eu estava vendo o Macca pela primeira vez. Até porque o primeiro show foi uma apresentação relativamente curta e essa teve duas horas e meia de duração, com 35 músicas! Tanto tempo de palco e tantas canções, obviamente, aumentaram as probabilidades de ficar emocionado.

Deve ser realmente redundante todo esse papo de “chorei”, mas é realmente a reação que tive em todas as apresentações. Não deu pra evitar, nem tentei segurar. Nem sei bem o que dizer e pareço meio retardado ao explicar. Não é um caso de fanatismo, mas um caso de amor.

Abaixo, o setlist do show

Jet
Drive My Car
Only Mama Knows
Flaming Pie
Got to Get You Into My Life
Let Me Roll It (com um pedacinho de Purple Haze)
Honey Hush
Highway
The Long and Winding Road
My Love
Blackbird
Here Today
Dance Tonight
Calico Skies
Mrs. Vanderbilt
Eleanor Rigby
Sing the Changes
Band on the Run
Back in the U.S.S.R.
Something
I’ve Got a Feeling
Paperback Writer
A Day in the Life > Give Peace a Chance
Let It Be
Live and Let Die
Hey Jude

Primeiro bis: Birthday / Can’t Buy Me Love / Lady Madonna

Segundo bis: Yesterday / Helter Skelter / Get Back / Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (Reprise) > The End

And in the end…

abril 20, 2009

Custei um bom tempo para controlar o choro depois do último show do Paul. Uma alegria chorosa incontroláve, não só por ter realizado meu sonho de vê-lo, ainda mais de tão perto quanto vi nas duas últimas apresentações, mas por tudo que vivi esses dias. Definitivamente, foram os melhores de minha vida até hoje. Saudade enorme das coisas e pessoas que conheci por aqui. Preciso aprender a ser menos chorão.

haha

Estou há quase 72 horas sem tomar banho.

Dirigi por cerca de sete horas viajando da Califórnia até Nevada.

Não consegui recuperar o ingresso do show do Paul em Las Vegas que foi extraviado. Paguei duzentos dólares por um novo.

Vou dormir por uma hora porque tenho de entregar o carro alugado logo mais.

Vi o amor.

Vi o Paul. Três vezes. Missão cumprida.

E, finalmente, tomarei um banho.

CoachellaDuas horas e meia de show pertinho do palco, muito sono e um laptop configurado em idioma estrangeiro. Me recuso a digitar palavras sem acento ou cedilha, me incomoda.

Mas este foi, definitivamente, o show da vida. Isso depois de ter visto o show da minha vida no dia quatro passado. Alguma chance do concerto de Las Vegas ser melhor ou mais emocionante? Tudo pode acontecer.

Falando sobre Las Vegas, meu ingresso comprado em um tipo de cambista foi, de alguma forma, extraviado e tem entrega programada para a segunda-feira. E o show acontece logo mais, no domingo. Ainda sem saber como farei para entrar. Precisarei que tenham pena de mim.

The word

abril 16, 2009

Tem sempre uma música dos Beatles adequada para cada momento da vida, essa é minha opinião. Considerando a quantidade de músicas que eles têm, isso é perfeitamente razoável. Minha música hoje é The word.

Have you heard the word is love?
It’s so fine, It’s sunshine
It’s the word, love

Defendo plenamente que essa palavra seja dita sempre que se há o desejo de pronunciá-la. Tem gente que guarda, não sei a razão, e tem gente que fala em excesso, o que também me parece falho.  Escutei love um bocado de vezes aqui em San Francisco.

A primeira vez foi atravessando a Golden Gate de bicicleta. Ouvi um cara se declarando para a namorada e se ajoelhando lá mesmo, pedindo a moça em casamento. E ver coisas do tipo tem me ajudado a voltar a acreditar na bendita palavra.

Isso porque minha viagem pelos EUA também tem um quê jornada interior, aquilo de repensar algumas coisas da vida e botar a cabeça em ordem após fim de relacionamento e outros percalços que me desiquilibraram um pouco.

Mas, bem, eu vi o amor naquele casal. E tropecei na palavra outras vezes; amei gente por aqui, instantâneamente. Porque acredito que amor não precisa ser cultivado, ele pode simplesmente brotar, assim do nada. Sei que isso soa bem piegas e irreal. Mas não custa tentar acreditar nisso. Pelo menos de vez em quando. Agora parece uma boa hora.

Caso do acaso?

abril 11, 2009

Quase sempre, tenho a sensação de que não temos escolhas na vida, que tudo está, de certa forma, traçado e predestinado. O mais esquisito e contraditório de tudo isso é que não acredito, ou penso não acreditar, em um ser superior ou qualquer tipo de força maior manipulando isso. Apenas, por uma razão desconhecida, acho que não temos escolhas, tudo está pré-definido.

Porque o acaso parece por demais improvável na maioria das vezes. Algo como chegar no aeroporto e a música ambiente ser justamente uma dos Beatles, quando eu estava desembarcando pra ver um show do Paul McCartney. Não pode ser outra coisa que não uma deliciosa brincadeira das forças (preciso de um nome melhor, não me venham falar de Deus) que administram o universo.

Simplesmente não consigo acreditar que algumas coisas acontecem de forma aleatória, mesmo sendo descrente e decepcionado com Deus ou qualquer outra divindade ou criatura mágica. Depois de tantos agradáveis acasos por esses dias, me sinto mais espiritualizado. Será que estou amolecendo?

Acho que vou voltar a tentar a meditar. Preciso de um mantra.

Não consigo achar outra definição que não mórbido para o fato do Dakota Building, prédio onde o Lennon morava, ter virado ponto turístico.  Foi lá que mataram ele, ora. E as pessoas param lá e tiram fotos sorrindo! Na mesma calçada onde ele foi baleado. Não digo isso por achar desrespeitoso o fato de sorrir e pousar pra foto, apenas considero a reação estranha por demais.

Estar lá na frente do Dakota me deu um aperto danado no coração, nem sei explicar direito. Aliás, sei sim. Eu amo o John Lennon (e também, claro, o Paul, o George e o Ringo). E estar lá desperta aquele tipo de tristeza que a gente sente por certas coisas ou pessoas que não vimos ou conhecemos. É como um parente de quem você ouve histórias fantásticas e adoraria ter tido a chance de conhecer. Só que esse parente morreu antes mesmo de você nascer.

Minha história com Lennon é assim. Com os Beatles também, já que, de alguma forma, eles acabaram antes (muito antes) de eu nascer. Mas isso nunca me impediu de amar a todos eles. Não quero de nenhuma forma lembrar que metade do grupo já partiu.

Por isso eu não tirei uma foto no Dakota.

Lennon

Paul and RingoFor the benefit of Mr. Kite Lynch, Paul and Ringo song together. Ok, além de iniciar um post em inglês, fiz um trocadilho ruim com o nome de uma música dos Beatles, o que torna tudo menos acessível, mas, enfim, não poderia deixar de escrever isso.

Bem, justamente por ser um concerto beneficiente, organizado pelo David Lynch, não tava botando muita fé que o show seria tão bom quanto foi. Imaginava que apenas as apresentações do Paul e do Ringo iriam salvar o evento, mas não.

Confesso que fiquei assistindo meio emburrado o início, com o David Lynch falando sobre como é legal a meditação transcendental (o mote do concerto era esse, arrecadar fundos pra difundir a prática em trocentas escolas pelo mundo), aqueles vídeos chatos com depoimentos de crianças e blá-blá-blá.

Até o momento em que a Sheryl Crow cantou My Sweet Lord, do George Harrison. Lógico que falando isso eu pareço um retardado bitolado em Beatles e suas carreiras solo, mas, nossa, ela cantou de forma impecável. E o Ben Harper na guitarra e fazendo backing vocal também estava incrível. Chorei, não vou mentir. E depois disso até o Eddie Vedder cantou de forma inteligível, coisa que ele não costuma fazer muitas vezes no Pearl Jam.O Donovan também estava sensacional. E ainda teve uma apresentação surpresa, nem fazia ideia, o Seinfeld, que passou uns dez ou quinze minutos falando besteiras geniais no palco. E ele é um Paul McCartney da comédia, ídolo.

Acabei de me desarmar quando chamaram o Ringo pro palco. Eu não arrumo clichês suficientes pra definir o que senti, se foi como ” sonho realizado” ou ” a coisa mais emocionante que já vi na vida”. A razão da viagem toda é o Paul, mas só fui para esse concerto por causa do Ringão. E ele não decepcionou. Cantou sozinho apenas três músicas ( It don’t come easy, Boys e Yellow Submarine), o que eu já esperava. Menos de 15 minutos de apresentação, mas suficiente.

E quando o Paul eu nem senti toda a emoção que imaginava que sentiria. Talvez pelo fato de acreditar que esse não seria a melhor apresentação dele sozinho que eu veria por esses dias. Isso quase me deixou blasé, mas logo que ele começou com Baby you can drive my car eu estava cantando desesperadamente e achando tudo divinamente bonito. E, aliás, tudo está realmente divinamente bonito.

As coisas ficaram sérias mesmo quando Paul anunciou que iria chamar uma pessoa ao palco. “Ringo”, algumas pessoas arriscaram. “No, not him”, Paul fez questão de corrigir. Quem diabos seria?

“Ladies and gentlemans, Billy Shears”, anunciou Paul. Ufa.

Novamente, lágrimas misturadas com um sorriso débil e tentativas de cantar With a little help from my friends sem embargar a voz. Não consegui. Que felicidade.